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Por meio
de dramatizações e adaptações de fatos reais, a série interroga quem comanda o
cárcere, como se dá o funcionamento das penas e em que medida o Estado exerce
de fato controle e justiça.
Realidade retratada e adaptação dramática
A
narrativa de Tremembé se inspira em livros de reportagem e em processos
judiciais que documentam crimes de repercussão nacional, e situa-se no ambiente
da Penitenciária Doutor José Augusto César Salgado (Tremembé II), em São Paulo.
A produção combina nomes como Marina Ruy Barbosa, Carol Garcia e Bianca
Comparato no elenco, e utiliza licença dramática para condensar eventos,
reordenar cronologias e criar diálogos ficcionais.
Muitos dos acontecimentos mais impactantes são verídicos, ainda que narrados de forma adaptada para uma temporada de cinco episódios. A utilização de fatos e ficção gera questionamentos relevantes sobre a credibilidade das imagens e sobre até que ponto a dramatização influencia a percepção pública sobre crime e sistema prisional.
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Impunidade, poder paralelo e o sistema brasileiro
No cerne da série está a palavra-chave “impunidade”. O retrato mostra
detentos famosos que cumprem pena — em alguns casos, durante décadas — e mesmo
assim mantêm redes de influência dentro e fora da prisão. A trama ilustra como
atores do crime organizado, de notoriedade midiática, continuam a interagir,
manipular e coexistir em estruturas de poder que desafiam a noção de punição
efetiva.
Outro termo-chave é “sistema prisional”, já que a série escancara as
condições de convivência, hierarquias internas e a aparente falha estatal em
exercer o controle total. A junção de celebridade, poder e delinquência,
indicam que a punição nem sempre corresponde à notoriedade do crime, abrindo
caminho para reflexões sobre eficácia penal e retorno social da pena.
A série também problematiza o “controle do Estado”. Se, legalmente, a
punição deveria levar à reabilitação e proteger a sociedade, a produção sugere
que o cárcere pode funcionar como palco de complementação de poder e fama — uma
realidade que contrasta com o ideal de punição justa. Em algumas cenas,
presume-se que a notoriedade traz privilégios, contato com o mundo exterior e
influência entre detentos, alimentando a sensação de que o criminoso famoso
pode continuar operando mesmo preso. Isso alimenta o debate sobre se o Brasil
aplica realmente a justiça de forma eficaz ou se, na prática, algumas figuras
escapam da sanção plena.
Reflexões sobre o papel da mídia e do entretenimento
A escolha da abordagem true crime para retratar esse universo coloca a mídia
como protagonista ao lidar com temas de crime, justiça e sistema penitenciário.
A palavra-chave “entretenimento” entra em cena — Tremembé oferece
dramatização rica, elementos visuais fortes e narrativa estruturada para
engajar o público.
Por outro lado, a interação entre entretenimento e realidade levanta a
dúvida sobre a responsabilidade de plataformas de streaming ao abordar casos
reais, muitos ainda com desdobramentos judiciais. A série reflete como o Brasil
consome crime em formato de entretenimento, enquanto simultaneamente convive
com os legados de impunidade, falhas investigativas e lentidão judicial.
É relevante notar que a produção passou por revisão jurídica antes da
estreia, evidenciando a complexidade de retratar casos reais sob a ótica da
dramatização. Os produtores declararam que as cenas mais absurdas se basearam
em fatos, mas reconheceram que o enredo exigiu adaptação cronológica e
narrativa para caber no formato televisivo. Essa fusão de “verdade” e “licença
artística” pode alterar a percepção de quem assiste e moldar o entendimento
público sobre crime, punição e sistema prisional.
Em suma, Tremembé coloca em evidência questões centrais no Brasil:
a notoriedade do criminoso, o funcionamento do sistema prisional, o papel do
Estado na punição e a linha tênue entre retratar a realidade e entreter o
público. A série não oferece respostas fechadas, mas instiga o espectador a
refletir sobre o que significa justiça, controle e impunidade num país em que o
crime de grande repercussão muitas vezes vira espetáculo.
Fontes:
• Exame — “Tremembé: o que é verdade e o que é mentira na série do Prime Video”
https://exame.com/pop/tremembe-o-que-e-verdade-e-mentira-na-nova-serie-da-netflix/
• Tangerina — “O que é real e o que é ficção em Tremembé, série do Prime Video”
https://tangerina.uol.com.br/filmes-series/o-que-e-real-e-o-que-e-ficcao-em-tremembe-serie-do-prime-video/
• Wikipedia — “Tremembé (telesérie)”
https://pt.wikipedia.org/wiki/Trememb%C3%A9_%28teless%C3%A9rie%29
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