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Tremembé: a série que reacende o debate sobre impunidade no Brasil

Série Tremembé
Tremembé coloca em evidência questões centrais no Brasil. Foto divulgação: Prime Vídeo.

A
série
Tremembé, lançada em 31 de outubro de 2025 pelo Prime Video, traz à cena a rotina de detentos de alta repercussão, tais como Suzane von Richthofen e Elize Matsunaga, no presídio conhecido como “o presídio dos famosos”. A produção aborda o sistema prisional brasileiro, as relações entre criminosos influentes e as implicações de poder e punição, questionando se o Brasil segue sendo um país de impunidade.

Por meio de dramatizações e adaptações de fatos reais, a série interroga quem comanda o cárcere, como se dá o funcionamento das penas e em que medida o Estado exerce de fato controle e justiça.


Realidade retratada e adaptação dramática

A narrativa de Tremembé se inspira em livros de reportagem e em processos judiciais que documentam crimes de repercussão nacional, e situa-se no ambiente da Penitenciária Doutor José Augusto César Salgado (Tremembé II), em São Paulo. A produção combina nomes como Marina Ruy Barbosa, Carol Garcia e Bianca Comparato no elenco, e utiliza licença dramática para condensar eventos, reordenar cronologias e criar diálogos ficcionais.

Muitos dos acontecimentos mais impactantes são verídicos, ainda que narrados de forma adaptada para uma temporada de cinco episódios. A utilização de fatos e ficção gera questionamentos relevantes sobre a credibilidade das imagens e sobre até que ponto a dramatização influencia a percepção pública sobre crime e sistema prisional.

Elenco da série Tremembé. Foto divulgação: Prime Vídeo.
Elenco da série Tremembé. Foto divulgação: Prime Vídeo.


Impunidade, poder paralelo e o sistema brasileiro

No cerne da série está a palavra-chave “impunidade”. O retrato mostra detentos famosos que cumprem pena — em alguns casos, durante décadas — e mesmo assim mantêm redes de influência dentro e fora da prisão. A trama ilustra como atores do crime organizado, de notoriedade midiática, continuam a interagir, manipular e coexistir em estruturas de poder que desafiam a noção de punição efetiva.

Outro termo-chave é “sistema prisional”, já que a série escancara as condições de convivência, hierarquias internas e a aparente falha estatal em exercer o controle total. A junção de celebridade, poder e delinquência, indicam que a punição nem sempre corresponde à notoriedade do crime, abrindo caminho para reflexões sobre eficácia penal e retorno social da pena.

A série também problematiza o “controle do Estado”. Se, legalmente, a punição deveria levar à reabilitação e proteger a sociedade, a produção sugere que o cárcere pode funcionar como palco de complementação de poder e fama — uma realidade que contrasta com o ideal de punição justa. Em algumas cenas, presume-se que a notoriedade traz privilégios, contato com o mundo exterior e influência entre detentos, alimentando a sensação de que o criminoso famoso pode continuar operando mesmo preso. Isso alimenta o debate sobre se o Brasil aplica realmente a justiça de forma eficaz ou se, na prática, algumas figuras escapam da sanção plena.


Reflexões sobre o papel da mídia e do entretenimento

A escolha da abordagem true crime para retratar esse universo coloca a mídia como protagonista ao lidar com temas de crime, justiça e sistema penitenciário. A palavra-chave “entretenimento” entra em cena — Tremembé oferece dramatização rica, elementos visuais fortes e narrativa estruturada para engajar o público.

Por outro lado, a interação entre entretenimento e realidade levanta a dúvida sobre a responsabilidade de plataformas de streaming ao abordar casos reais, muitos ainda com desdobramentos judiciais. A série reflete como o Brasil consome crime em formato de entretenimento, enquanto simultaneamente convive com os legados de impunidade, falhas investigativas e lentidão judicial.

É relevante notar que a produção passou por revisão jurídica antes da estreia, evidenciando a complexidade de retratar casos reais sob a ótica da dramatização. Os produtores declararam que as cenas mais absurdas se basearam em fatos, mas reconheceram que o enredo exigiu adaptação cronológica e narrativa para caber no formato televisivo. Essa fusão de “verdade” e “licença artística” pode alterar a percepção de quem assiste e moldar o entendimento público sobre crime, punição e sistema prisional.


Em suma, Tremembé coloca em evidência questões centrais no Brasil: a notoriedade do criminoso, o funcionamento do sistema prisional, o papel do Estado na punição e a linha tênue entre retratar a realidade e entreter o público. A série não oferece respostas fechadas, mas instiga o espectador a refletir sobre o que significa justiça, controle e impunidade num país em que o crime de grande repercussão muitas vezes vira espetáculo.

 

 

 

 

 

 

Fontes:
• Exame — “Tremembé: o que é verdade e o que é mentira na série do Prime Video”
https://exame.com/pop/tremembe-o-que-e-verdade-e-mentira-na-nova-serie-da-netflix/
• Tangerina — “O que é real e o que é ficção em Tremembé, série do Prime Video”
https://tangerina.uol.com.br/filmes-series/o-que-e-real-e-o-que-e-ficcao-em-tremembe-serie-do-prime-video/
• Wikipedia — “Tremembé (telesérie)”
https://pt.wikipedia.org/wiki/Trememb%C3%A9_%28teless%C3%A9rie%29

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