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Como surgiram o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC)

Como surgiram o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC)
Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital são produtos de uma conjunção entre repressão penal, exclusão social e lógica de mercado criminal. Foto reprodução: divulgação site: El País.

Na interseção entre sistema prisional, repressão política e tráfico de drogas no Brasil, surgiram duas das mais influentes facções criminosas do país: o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC). O CV teve origem no final da década de 1970, no presídio de Ilha Grande, no estado do Rio de Janeiro, quando presos políticos e comuns passaram a se organizar para combater torturas e controlar o tráfico dentro e fora dos muros. O PCC, por sua vez, emergiu em 31 de agosto de 1993, no anexo “Piranhão” da Casa de Custódia de Taubaté, estado de São Paulo, quando oito detentos fundaram a facção para reagir ao massacre do Carandiru de 1992 e às condições opressivas do sistema prisional paulista.

A criação dessas organizações criminosas — por que surgiram (por conta de opressão e tráfico), como se formaram (nos presídios) e onde (Rio e São Paulo) — coloca em evidência os desafios do sistema prisional brasileiro, da segurança pública e do combate ao crime organizado.


A gênese do CV

A história do Comando Vermelho começa na península de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro, dentro do presídio conhecido como “Caldeirão do Inferno” ou “Instituto Penal Cândido Mendes” em Ilha Grande, onde presos comuns dividiram celas com presos políticos da ditadura militar. Em 1979, já sob o nome de Falange Vermelha ou CV, o grupo se organizou para combater a tortura e os maus tratos, junto à busca de controle do tráfico de drogas e fugas em massa.

Com o tempo, o CV começou a atuar fora dos muros da prisão: entre os anos 1983 e 1986, conquistou pontos de venda de drogas no Rio de Janeiro e entrou em guerra por territórios, dominando até 70% dos pontos de venda em algumas regiões em 1985. Essa trajetória ilustra como a facção transicionou de um grupo reativo dentro da prisão para uma organização estruturada que desenvolveu lógica de “violência + mercado ilegal”.


A origem do PCC e sua expansão

Em São Paulo, o sistema prisional superlotado e a repressão pós‑Carandiru criaram o contexto para o surgimento do PCC. A facção foi formalmente criada em 31 de agosto de 1993 por oito presos no Anexo da Casa de Custódia de Taubaté, apelidado “Piranhão”.

O grupo utilizou a estrutura de autogestão entre presos, adoção de estatuto interno, distribuição de funções (como “disciplina”, “sintonia”), cobrança de mensalidades, além de manter ordem dentro da prisão como alternativa à brutalidade do sistema. A facção também se tornou altamente lucrativa por meio do tráfico de drogas, roubos de carga e assaltos a bancos, ganhando influência fora dos presídios e expandindo sua presença por vários estados brasileiros e até fronteiras com outros países. A expansão do PCC reflete uma lógica de organização criminal que absorveu lacunas do Estado e consolidou poder institucionalizado.


Pontos de convergência e implicações para a segurança pública

Há diferenças regionais, históricas e estruturais entre CV e PCC — o CV emergiu no contexto de presos políticos e tráfico no Rio, enquanto o PCC se formou em São Paulo com lógica organizacional e expansão interestadual. No entanto, ambos compartilham fatores comuns: origem em unidades prisionais, condição de presos ou transferidos para regimes severos, uso do tráfico de drogas como base econômica, e a transformação em organizações com ramificações além das prisões.

O surgimento e fortalecimento do CV e do PCC têm profundas implicações para a segurança pública brasileira: sinalizam que o encarceramento massivo sem ressocialização eficaz, associado à repressão violenta, pode facilitar a criação de organizações criminosas que se beneficiam da desestruturação estatal. Além disso, a expansão territorial e a penetração em presídios e comunidades indicam que a guerra entre facções ou entre Estado e facções constitui um dos principais desafios à ordem pública no país.


Reflexões finais

Em síntese, o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital são produtos de uma conjunção entre repressão penal, exclusão social e lógica de mercado criminal. O CV iniciou‑se na década de 1970 nas prisões do Rio de Janeiro, com presos políticos e comuns organizando‑se na Ilha Grande. Já o PCC emergiu em São Paulo em 1993 como resposta à brutalidade carcerária e se expandiu por meio de estrutura organizacional robusta e atividades econômicas ilícitas.

A compreensão de como surgiram essas facções — onde, quando, quem, por quê e como — é crucial para construir estratégias mais eficazes de combate ao crime organizado, de reforma prisional e de políticas públicas que articulem segurança com cidadania. A palavra‑chave “governança penitenciária” torna‑se central: sem ela, o ciclo de fortalecimento das facções tende a se repetir.


 

 

 

 

Fontes:
CNN Brasil — Comando Vermelho: como surgiu e se espalhou a maior facção do Rio.
G1 — Comando Vermelho: como a facção se espalhou pelo Brasil e desafia o combate ao crime organizado
YouTube — Como surgiu o CV e o PCC.

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