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SÉRIE ANSIEDADE — PARTE 2: O Mundo Acelerado: tecnologia, trabalho e a pressa de tudo sentir

Ansiedade
Com o ritmo acelerado do mundo, surge uma consequência invisível: a pressa emocional. Foto reprodução: Grok/Canva

Vivemos em um tempo em que tudo precisa ser imediato: respostas rápidas, produtividade constante, entregas contínuas, conteúdos infinitos. Nesse cenário, a ansiedade deixou de ser somente uma reação pontual ao estresse e passou a fazer parte da rotina de milhões de pessoas. A velocidade do mundo moderno — especialmente das redes sociais e dos ambientes de trabalho hiperconectados — molda a forma como pensamos, sentimos e reagimos.

Se, na Parte 1, falamos sobre como a ansiedade se apresenta no dia a dia, agora é hora de olhar para os motores que intensificam esse estado: tecnologia, pressão produtiva e a sensação de que estamos sempre atrasados para algo.


🌐 Redes sociais: o relógio que nunca para

As redes sociais foram criadas para aproximar pessoas, mas rapidamente se transformaram em plataformas de estímulos contínuos. Não se trata somente de ver notícias ou conversar: trata-se de não perder nada.

O feed infinito, o “puxar para atualizar”, os vídeos curtos, os algoritmos que entregam exatamente o que prende mais nossa atenção — tudo isso mantém o cérebro em alerta constante. Esse ciclo de micro recompensas provoca um estado de excitação mental que se confunde com ansiedade.

Além disso:

  • posts “perfeitos” reforçam a autocobrança;
  • Comparações com vidas editadas reduzem a autoestima;
  • Excesso de informação gera fadiga mental;
  • Notificações constantes interrompem o foco e exacerbam a sensação de urgência.

Estudos recentes evidenciam que quanto maior for o tempo de tela, maior a probabilidade de sintomas de ansiedade, depressão e estresse, especialmente entre jovens e adultos hiperconectados.



💼 Produtividade sem limite: o trabalho que invade tudo

Enquanto as redes sociais aceleram o tempo do lazer, o mercado de trabalho acelera o tempo da vida. A cultura de alto desempenho criou um novo ideal: ser produtivo o tempo todo.

E-mail, WhatsApp corporativo, reuniões remotas, demandas rápidas, acúmulo de funções e a expectativa silenciosa de estar sempre disponível transformaram o ambiente profissional em um espaço que nunca se encerra.

Essa sensação de “trabalhar sempre mais” está diretamente ligada ao burnout, síndrome reconhecida pela OMS, caracterizada por exaustão física e emocional, redução da eficácia e sensação de distanciamento da própria vida.

Hoje sabemos que:

  • O excesso de telas no trabalho aumenta o technostress;
  • Interrupções sucessivas reduzem drasticamente a capacidade de concentração;
  • notificações corporativas prolongam o estado de alerta mesmo fora do horário de expediente;
  • Profissionais hiperconectados apresentam maior risco de burnout.

O resultado é um corpo cansado, uma mente sobrecarregada e um ciclo de ansiedade constante — mesmo quando não há uma ameaça real.


🔔 Notificações: pequenos gatilhos, grandes efeitos

As notificações parecem inofensivas: um som, uma vibração, um alerta no canto da tela. Mas sua frequência e imprevisibilidade ativam mecanismos cerebrais semelhantes aos de ameaça.

Pesquisas comprovam que:

  • mesmo quando não atendemos a uma notificação, o simples fato de ela aparecer já fragmenta o foco;
  • interrupções curtas aumentam o esforço cognitivo necessário para retomar uma tarefa;
  • a exposição constante a alertas eleva níveis de estresse e ansiedade;
  • Muitas pessoas passam o dia em “estado de vigília”, aguardando o próximo toque.

Vivemos como se algo importante fosse acontecer o tempo todo — e nosso cérebro não foi feito para essa prontidão infinita.



🚀 A pressa de tudo sentir

Com o ritmo acelerado do mundo, surge uma consequência invisível: a pressa emocional.

Esperamos sentir rápido, responder rápido, reagir rápido. Não há tempo para processar, refletir, descansar. Essa pressa dissolveu espaços de silêncio, pausa e respiro — elementos fundamentais para o equilíbrio mental.

Assim, a ansiedade se intensifica não somente pelo excesso de demandas externas, mas pela incapacidade de desacelerar internamente.


📌 E o que vem agora?

Na Parte 3, vamos explorar como a ansiedade afeta o organismo diretamente — inclusive alterando a forma como dormimos e até como respiramos.






Fontes

  1. OECD — The impact of digital technologies on well-being: main insights from the literature (2024).
    👉 https://www.oecd.org/content/dam/oecd/en/publications/reports/2024/11/the-impact-of-digital-technologies-on-well-being_848e9736/cb173652-en.pdf

  2. Marsh, E. — The digital workplace and its dark side: An integrative review (2022).
    👉 https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0747563221004416

  3. Ahmed H., Bani-Melhem S. — Technological work burnout: conceptualization, measure development and validation (2024).
    👉 https://www.researchgate.net/publication/384351569_Technological_work_burnout_conceptualization_measure_development_and_validation

  4. Brincat, M. — Digital Overload: The Health Cost of Constant Notifications (2025).
    👉 https://willingness.com.mt/notifications-affect-focus-stress-sleep-and-mental-health-during-digital-overload


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